domingo, 7 de dezembro de 2008

A PELEJA DE DONA JOSEFA


Nunca senti tanta saudade da minha cama quentinha. Amanhecer o dia no cais de Santa Rita em plena chuva, depois de passar a madrugada acesa, num coco em Olinda, e ainda passar direto da parada e ir parar na integração de Paulista para voltar ao “marco zero” da minha parada de ônibus não é muito agradável. No entanto, se aprende muito dessas experiências cotidianas e personagens que subitamente como uma flecha aparecem em nossa frente. Para ser mais exata até achei pertinente à crítica que a Dona Josefa fez sobre a parada de ônibus não servir para abrigar as pessoas da chuva. Cheguei até a interagir concordando com o seu posicionamento, afinal estava tremendo o queixo de frio. Mas se toda a espera pelo o ônibus tivesse se resumido a isso, com certeza teria saído com outra visão da senhorinha.

A chuva em Recife ultimamente é um fenômeno raro. Mas realmente tinha que chover logo quando Dona Josefa resolveu lavar dois varais de roupa, e pior ainda, depois dela sair de casa, o que a fez depender das crianças para apanhar as roupas do varal. E como todos devem saber as crianças de hoje, nem sempre estão dispostas a levantar da cama numa chuvinha fria para apanhar roupas na chuva, foi por isso que ela salientou: - Apanhe as suas e as minhas também! Por via das dúvidas é melhor não arriscar.

Mas tudo seria mais tranqüilo para o seu dia se não fosse dois fenômenos: Ser o seu primeiro dia no trabalho e estar atrasada, e o segundo, a festa do morro que arrastou 50 ônibus um atrás do outro, diminuindo a frota já escassa do CDU-VÁRZEA. Ônibus que ela jurava que ia pegar. Ainda por cima passam várias pessoas perguntando onde é a parada para o ônibus da festa, Dona Josefa não exita em responder: - É a próxima parada, não se preocupe que passa ônibus de instante em instante, só não passa essa desgraça que eu estou esperando. Completando que quando ela era católica não tinha tantos ônibus assim, mas quando decidiu ser evangélica as coisas mudam. Realmente. Parece existir um complor interplanetário contra ela. Que por sinal, não acaba aí. Como senão bastasse reclamar cerca de uma hora sobre não ter feito outro percurso que talvez a fizesse conseguir chegar no horário certo ao trabalho, a cada dez segundos comenta sobre que o próximo ônibus tem que ser o dela, consequentemente o meu. O que aumenta a minha ansiedade, mas fazer o que ela apenas é uma pessoa que honra seus compromissos. Todavia, acerta em cheio quando resmunga que o que mais a deixa chateada é chegar atrasada no primeiro dia de trabalho.
Para completar o seu desespero, a chefa que disse que não queria que ela chegasse às sete horas, mas as sete e meia, resolve ligar as sete e vinte e sete. Dona Josefa tenta se explicar, mas quando desliga o telefone chama mais palavrões que uma igreja inteira com o espírito santo. Admitindo que o fato de não conseguir passar muito tempo em um único trabalho se resume as atitudes de comando das suas patroas, que deixa ela se sentindo inferior.

Bem, parece que finalmente existe uma chance de um ônibus que pára passar perto de onde ela quer, mas quando ela menos esperava ao mesmo tempo chegou o cdu-várzea. Até fiquei mais aliviada porque enfim pararia de escutar tantas reclamações no início da manhã, e porque o seu dia talvez fosse mais feliz graças à chegada do ônibus. Se não fosse é lógico, a resposta do motorista: - Não esse ônibus não passa lá, o San Martin é que passa. (ônibus que ela ficara em dúvida se passara ou não no trampo, e acabava de perder). Bem, nem consegui olhar para a cara de desespero dela, porque na verdade, eu estava mesmo era morrendo de vontade de rir. Porque a pessoa fala tantas coisas negativas, que é quase impossível existir uma energia revertida para que as coisas dêem certo. Ela desceu do ônibus com uma cara que era um misto de raiva e tristeza.Durante o percurso do ônibus, o motorista comenta com a cobradora: - O San Martin passa mesmo lá? Tô achando que não. A cobradora responde: - Acho que passa, mas não tenho certeza, ela deve se informar pra saber.

Bárbara

Um comentário:

Anônimo disse...

uma bela crÔnica essa! achei o seu melhor texto até agora, o de escrita mais leve, o que mais se aproxima do seu jeito de falar.
É dona josefa, agora nao adianta reclamar, deixa o trabalho de lado e vai pro coco! Que pra la o onibus é certo
Mulato Russo.