sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009


“São oito milhões de habitantes
De todo canto e nação que se agridem cortezmente
correndo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Craseados a prestação
Porém com todo defeito te carrego no meu peito...
São, são paulo, quanta dor...
São, são paulo, meu amor... (Tom Zé)

Que horas... 10 conto na 25!!
De início a primeira reação é intimidação.

Apesar das receitas e teorias, o senso comum fala mais forte, e não há como fugir de milhões de palavras que foram pronunciadas pelo aparelho medonho todos os dias. Seja simplesmente para dar o tempo, para passar alguma tragédia, ou o cotidiano de uma cidade como representante do Brasil.
Mesmo assim pensei que fosse mais emocionante. Me desculpem, mas talvez eu estivesse esperando uma montanha russa com direito a frio na barriga. Só que a fila tava tão grande, que eu desisti de andar. Esse é o problema de ser uma eterna criança, procurar sempre emoção em tudo.
Posso dizer que esperava mais. Sim.
Talvez seja um mal da humanidade esperar mais, ou mesmo, eu esteja culpando a humanidade por um mal meu. É, isso mesmo. Não estou poupando minha dose de autoflagelação diária. É só para que não digam que estou sendo arrogante, tudo bem? Até porque não vai dar pra explicar todos os fatores que me levam a crer que essa cidade como expõe Tom Zé, é um grande fruto de contradições.
Me chamem de provinciana, ou dos sinônimos que possam existir, mas como passar 2 horas e meia dentro de um ônibus abafado com um sol escaldante que vem seguido de uma chuva torrencial que inunda a rua que você pretendia descer e voltar pra casa? Como se passa 3 horas num trânsito para ir a uma praia, em que eu vou a 20 minutos numa muito mais bonita na minha terra? Difícil de acostumar, não?


- Show de Luiz Melodia, o fim de semana inteiro no sesc Vila Mariana!
- Que ótimo. Vou ligar para comprar os ingressos. (Quarta-feira pela manhã)
- Queria comprar ingressos pra o show de Luiz...
- Os ingressos estão esgotados!

Que instingante. Realmente, aprendi uma coisa lá. O meu trauma de me achar sistemática e a tentativa de fugir disso, é mesmo real pra essa ocasião. Não sou tão sistemática assim! Precisaria me programar com um mês de antecedência no mínimo. Uma coisa tirei de bom: Um relógio Swatch a 10 conto na 25 de março!! Paraíso dos pobres!! Fiz a festa na galeria Pajé!! E haja japonês, coreano, e derivados. Talvez possa me organizar melhor de relógio, quem sabe. Ou então depois do vidro que caiu e colei, a próxima parte a não funcionar seja o contador. Daí, vou perceber que ou eu parei no tempo, ou a intimidação não passava um canto ilusório da sereia, de uma estrutura imponente que ao mesmo tempo te aprisiona, te fazendo refém de uma cidade que estrangula a liberdade.

Assim, por hora, prefiro não usar relógio e continuar acordando e decidindo ao longo do dia qual a programação que farei sem precisar enfrentar filas quilométricas, talvez uma sistematização a cada acordar. Quem sabe aprendo a me basear pelo relógio do sol também... Já que tem sol todos os dias, sombra, água de coco (fresca) a 50 centavos na praia, e o melhor de tudo: VENTO, BRISA, e seus sobrinhos e primos.

Bárbara