domingo, 30 de novembro de 2008

Sensações Jornantropológicas

Domingo, dia de feira, final da manhã. Saí para comprar umas coisas. Bem em frente a minha casa, um casal passava conversando e pude ouvir umas palavras soltas... "mulher... tiros". Não dei muita atenção, segui. Pouco a frente, dois amigos: - É, mataram... – Carai...
Próximo ao final da minha rua, uns três grupos de pessoas também conversavam, expressão de coisa não cotidiana aconteceu. Pus os ouvidos atentos a mais ou menos todos, a voz de uma senhora se sobressaiu: - É, eu fui olhar, ainda tava agonizando, chamaram o Samu, mas quando chegou ela já tava morta. Um rapaz escutou um tiro. Outro comentou que "tinha tiro na cabeça, em todo canto".

De longe posso ver o final da rua perpendicular a minha: lá tinha muita gente e muita coisa acumulada: crianças, sacolas de feira, mães, idosos, carros, bicicletas. Tudo muito colorido, agitado e envolto em ondas de calor. Sempre me impressiona como as pessoas adoram ver defunto. Eu não gosto. E, mesmo curiosa, não precisaria chegar perto, pois já sabia mesmo o que tinha acontecido.

Mas fiquei pensando na tal mulher. Ela tinha filhos? Alguém ia chorar por ela? Ela sabia nadar? Andar de bicicleta? A quem amou? Quem a amou? O que ela gostava de comer, de beber? Tinha muitos amigos? Quantos namorados ela teve? E quantos deles vão se abalar quando souberem o que aconteceu? Pra onde ela vai agora?

Minha cabeça depois se perdeu pensando em outras coisas, na balbúrdia colorida, quente, barulhenta e de cheiros fortes da feira. Ao voltar, um carro de reportagem passou por mim e eu lembrei de novo da mulher. Pensei que depois poderia entrar no portal de notícias pra saber mais sobre. Mas desisti logo. Lá com certeza não haveria muito mais do que eu soube entre minha casa e o final da rua. E o que eu queria mesmo saber, talvez nem a "mulher morta a tiros hoje no Funcionários I" soubesse.
Por Caroliane Anjos

3 comentários:

Helder Oliveira e Bárbara Duarte disse...

Vaquildaaaaaaaaaaaaa! uhúú!!

Anônimo disse...

Fazer as perguntas pertinentes em relação ao "corpo estendido no chão" cabe tão bem a nossa imprensa como coube aos transeuntes curiosos que circundam nossas "moradas".
Afinal de contas, ninguém pensa em ninguém.
Mal temos tempo de pensar em nós, quanto mais nos outros?
Todos estão com sua vidinha ganha.

Sigamos nosso caminho!

"vendo tudo, vendo tudo
e fingindo ser mudo" (como diria o cantor)

BEM-VINDA CAROLI!

Rapchaell disse...

Pois é, o texto é mutio bom...
Com relação a impressa burguesa, é muito claro que o corpo estendido no chão é a única coisa que poderia servir, Mas as sensações da alma, isso não podem ser vendidas...
Para muitos, é so mais uma mulher morta...