segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O SONHO NA MORADA

Manhã logo cedo, já são quinze pras quatro de um dia qualquer
dia que é noite, dia que não é
vim daquele lugar, ou de lugar algum
o lugar donde venho é lugar de qualquer um
venho, do caminho que eu sigo a andar
caminho desde cedo pra chegar a algum lugar
meu caminho não é torto, muito menos de papel
nunca vi outro caminho
em que cansado eu sempre ande com um sorriso de fininho

E sorrindo vou seguindo a vereda interior
calmo, manso e quieto esperando por meu teto
o meu teto é qualquer um
é um abrigo no improviso

Me acomodo levemente bem sereno e sorridente

Fecho os olhos sedentos por descanso...
paulatinamente a cortina aberta é
vejo o mundo dos meus sonhos que outrora eu deixei
no meu quarto às onze e meia bem na hora que acordei
cumprimento-os novamente
os chamando pra sentar
e acenam pro meu lado me mandando levantar
acordo em prontidão
vôo em sua direção
me abraça e me beija e me chama de patrão
sou apenas operário dessa história em construção

-Vem!
bota cimento
me da cá a sua mão
a massa nós dois faz
um botando água
outro o cimento a botar
a brita e a areia ainda está por chegar

Chega outro companheiro vai jogando uma pá
uma leve, uma cheia que é pra eu não me cansar
com a brita e a areia no cimento a inundar
ele vai tomando forma
e informa ao sonhar:

O operário entra em cena pra essa forma informar
que ele vai mudar de forma
essa forma de sonhar

-Vai pegando com a testa o cimento devagar
bota logo aí na mesa que eu quero começar
pouco a pouco vai crescendo essa massa de jantar
quando está tudo na mesa é a hora de abraçar
é a hora que eu faço uma estátua me rodar...

por dinho

foto: helder oliveira




6 comentários:

Anônimo disse...

com um pouco de Pessoa os versos começam a me levar para um caminho que não se mostra claro, mas que aparece como estrutura dele mesmo. como os caminhos da vida, o texto se faz na construção, mas só se completa no outro, só se completa em quem lê. falando da vida você fala de si, fala de mim e não fala de ninguem, o trabalho fala por si, o caminho diz tudo. e no sonho o caminho fica mais leve, a força da gravidade pára de existir, não mais afeta o pensamento, ele agora pode voar e voar e voar, sem pesos, sem âncoras meu sonho sou eu....

Anônimo disse...

Me lembrou Pessoa tbm, mas me lembrou outra pessoa Chico Buarque no começo, dizendo que de teimoso a gente faz pirraça (acho que é assim q se escreve). Mas não citei a estrofe correta, o que importa é que como ele diz "ninguém segura esse rojão" então acho que todas essas estratégias são válidas: sorrir, levar a vida mais leve, e mais do que tudo SOMAR. sE AJUDAR.
Isso, me lembrou outra pessoa: Dinho.
Por fim, do meu comentário prolixo... gostei do formato, a foto depois eu comento mais subjetivamente com vc, em outro formato tbm..
E tô gostando cada vez mais da sua forma de escrever... um operário das letras... beijos!
Bárbara.

Anônimo disse...

a estrofe é essa aqui?

"Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão
...
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão"

VIVA CHICO! e VIVA A MATRACA!

Anônimo disse...

mas lendo com calma penso comigo mesmo, tão importante quanto a pirraça, é o gole da cachaça!

Anônimo disse...

Parece que o texto foi contruído baseado no seu histórico.Um sonhador sem horário, em busca do direito de construir dignamente seus ideais e vida.Meu caro Dinho...somos todos sequelas dessa sociedade alienada que nao nos permite viver nossos próprios sonhos...o sonho na morada.

Anônimo disse...

pois é!
é!
vou sonhando na morada,
na cama digo que sonho,
na rede digo que durmo,
sonho,
durmo,
canto e falo

sempre com um ar de sequelado!